Pombo Trocaz (Columba trocaz): Espécie endémica rara a nidificar no Palheiro Estate

Como residente de longa data na ilha, cresci a ouvir a história que o Pombo Trocaz vivia exclusivamente nas florestas de laurissilva no Norte da ilha, alimentando-se de bagas de louro; quando se aventuraram para o exterior, para comer couves tenrinhas, os agricultores furiosos caçavam-nos e, portanto, a população estava em declínio. Em grande parte tal continua a ser verdade, embora se possam observar estas aves em pequenas zonas de laurissilva do lado Sul da ilha e sejam espécie já protegida há largos anos. Acredita-se que a população esteja agora a aumentar.

Rare Endemic pigeons
No segundo volume do seu livro "Birds of the Atlantic Islands" ("Aves das Ilhas Atlânticas"), David Bannerman dá destaque ao Pombo Trocaz, com uma ilustração grande, a cores, a acompanhar o texto que descreve a respectiva ave, nomeadamente que pode ser identificada através do seu bico vermelho, anel cinzento à volta do pescoço, tom rosado no peito e dedo ou garra do meio muito comprido (ver ilustração). Na verdade, desta magnífica ave há vários exemplares armados no Museu de História Natural do Funchal. Como visita frequente aos Jardins do Palheiro ao longo dos anos, tenho observado uma quantidade crescente de Pombos Trocazes, tendo inicialmente achado que pudessem estar perdidos, ou que tivessem sido assustados por incêndios ou caçadores. Actualmente já estão mais estabelecidos e o Greenkeeper do Palheiro Golf, Luís Alves, acredita que deve haver várias dúzias a viver nos bosques, procurarando alimento junto dos loureiros, azinheiras e árvores semelhantes. Têm-se tornado bastante mansos, aliás como provavelmente seriam quando a ilha foi descoberta.

Recentemente um juvenil, incapaz de voar, foi encontrado e colocado numa caixa de cartão; O Dr. Frank Zino e o Dr. Manuel José Biscoito, curador do Museu de História Natural, foram consultados e, graças a este último, a ave foi recolhida por João Silva, o responsável pelas colecções do Museu.
A ave reagiu bem ao seus cuidados, já come sózina e está a esforçar-se por voar - embora ainda de forma um pouco instável... Oxalá um dia venha e ser devolvida ao mesmo local, e que possa voar novamente no seu refúgio do Palheiro. Disseram-me que já era o segundo caso, porque o ano passado, no Palheiro, houve um filhote que caiu do ninho, e foi João Silva quem tratou dele, tendo, no início, que o alimentar à mão, antes de ser devolvido ao seu meio natural.

Nos Jardins do Palheiro às vezes podemos observá-los nos relvados e bebendo dos charcos. Recentemente vi de perto um macho namoradeiro. Perante duas fêmeas que se mostravam atentas, abanou a cauda, revirando-se e saltitando à sua frente. À tardinha podemos vê-los a voar para a Ribeira do Inferno, que fica perto. Acredito que o mais provável é que nidifiquem ali, ou nos buracos ou rebordos da escarpa de pedra, sobre a nascente na base do penhasco, ou nos loureiros. As visitas aos Jardins raramente visitam esta zona selvagem que contém uma série de árvores endémicas da Madeira.

Richard Pell